quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A MORTE E A MORTE DE STEVE JOBS

Não possuo nenhum dos aparelhos que notabilizaram e agora com sua morte, mitificaram a figura de Steve Jobs. Não o acho menos importante por isso, sou fascinado pelo tal tablete, de onde se pode ler livros virtuais e acredito que mais dias menos dias vou possuir um. O que é que isso vai me tornar uma pessoa melhor ou menos ruim do que sou, não me preocupa mais do que como vou resolver pendências do meu dia a dia, mais imediatas e urgentes. Ontem vi aqui pela televisão, me permiti fazer uma assinatura de tv a cabo e tenho visto coisas que não veria só com a parabólica, duas entrevistas interessantíssima: uma com um jornalista americano de origem indiana, Fareed Zakarias e outra com um velho conhecido meu, não pessoalmente, claro, o ator Walmor Chagas. A entrevista com o jornalista americano tinha como mote o declínio do império americano, a com o Walmor, parte dela, sobre nossa velha e conhecida morte. As duas interessantíssima, mas a de Walmor me tocou mais. Aos 81 anos, Walmor fala da morte com uma naturalidade estarrecedora, dizendo-se ansioso para que ela venha e não tarde tanto. Parece brincadeira e coisa de gente de teatro, como se tivesse falando de uma outra morte, de uma outra pessoa ou personagem. Vive isolado do mundo, fisicamente, num sítio numa cidade do interior de São Paulo e só desce do seu  refúgio quando o procuram para algum trabalho. Nos dois últimos anos fez dois filmes e diz que não procura mais trabalho, só encara os que aparecem, os que lhe procuram. Poderia ficar aqui o resto do dia falando sobre teatro e Walmor Chagas, mas a postagem é sobre a morte de Steve Jobs. Acordei no meio da noite e vi um cara que não admiro, de coração, Arnaldo Jabour, fazendo o discurso mitificador sobre o homem da Aple, que vamos ouvir o dia todo. Não me foi estimulante, mas pra não me alongar mais do que devo, encerro dizendo que pensar que em termos culturais, de conhecimento, cada vez acredito menos na importância da educação formal, que as escolas não conseguem dar a ninguém, não sei no que pode significar mesmo em termos de melhoria de nossa vida, se poder baixar em seis segundos, qualquer livro, em qualquer língua, que é o sonho de consumo do dono da Amazon, através dum tablete. Imagino que solitários como eu ou Walmor Chagas poderemos nos sentir menos sozinhos com isso, mas não sei o que isso me fará mais ou menos feliz ou infeliz como pessoa.